Muito tem-se discutido sobre o racismo que faz vítimas diariamente na sociedade brasileira, bem como a importância de ações concretas contra o aumento das desigualdades sociais e da violência contra mulheres. Mas, essas pautas estão na agenda dos candidatos nas eleições de 2022? Há, de fato, representatividade para essa parcela da população nos lugares de tomada de decisão?
Pensando nessas questões, o Instituto Update realizou duas pesquisas que tratam de temas fundamentais quando o assunto é participação política.
A importância da representatividade
O estudo +Representatividade discute a importância de a política ser mais aberta e receptiva a candidaturas diversas que realmente representem a forma como a sociedade brasileira é composta: mais da metade da população é negra e há mais mulheres do que homens.
Tulio Malaspina, coordenador geral e porta-voz da pesquisa, explica que um dos principais achados do levantamento foi o fato de que, ao mesmo tempo que a sociedade reconhece que a política é muito desigual e que não tem espaço para mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+, ela apoia a existência e prática de políticas afirmativas – como um sistema de cotas.
A pesquisa cita um novo mecanismo na política eleitoral brasileira: as iniciativas de apoio aos/às candidatos/as com objetivo de garantir mais diversidade. Apesar de a proposta não ser novidade em países como Estados Unidos e México, no Brasil, o movimento teve início em 2016 com o objetivo de apoiar candidaturas e atuar onde partidos políticos não conseguem chegar. As ações, variadas, trabalham desde formações jurídicas, administrativas, contábeis e pontos da estrutura burocrática de uma candidatura, ou também informações mais técnicas de cunho de campanha, como mobilização, redes sociais e mídia training.
Entretanto, apesar de gerarem bons resultados, principalmente quando têm uma atuação mais regionalizada e customizada, quase no formato de mentorias para o candidato, a pesquisa mostrou um distanciamento grande entre essas iniciativas pró-diversidade e os partidos políticos.
“Por mais que existam exceções [de candidatos] que consigam estar em um lugar mais independente em relação aos partidos, a grande massa de representação política terá que passar por uma construção partidária. Isso tem gerado uma série de conflitos e dificuldades nesse processo de aumento da representação das mulheres, das pessoas negras e indígenas na política, muito por conta desse distanciamento que existe entre a sociedade civil, os movimentos e as iniciativas pró-diversidade e os partidos políticos”, comenta Tulio.
Segundo o coordenador, a pesquisa mostrou justamente como o racismo, machismo e LGBTfobia atuam como barreiras estruturais para que essas pessoas acessem a política institucional. “Esses fatores afetam não só a vontade de uma mulher, de uma pessoa negra e de uma pessoa LGBTQIA+ querer seguir uma carreira política, mas também o recrutamento dessas pessoas por parte dos partidos políticos. Essas organizações são geridas e dirigidas por homens brancos racistas, machistas e LGBTfóbicos e, portanto, no processo de seleção, eles, naturalmente, vão colocar esses vieses como uma camada.”



